Olá galera antenada!
O Connect@som começa mandando muito
bem: entrevistamos Dalmo Medeiros.
Dalmo é um renomado músico,
intérprete; componente do grupo MPB4. Teve várias de suas músicas gravadas por
grandes artistas da música brasileira, como Ivete Sangalo e Elba Ramalho.
Compositor de mão cheia, tem
experiência de sobra. Ele também é professor do Conservatório Brasileiro de
Música, ministrando o curso de Produção Musical em Quatro Temas.
Equipe Connect@som:
Dalmo, como você começou na música?
Dalmo Medeiros: Eu iniciei minha formação musical através do canto coral. Tendo um pai
maestro, um dos fundadores da Orquestra Tabajara, e um tio cantor famoso, Cauby
Peixoto, as influências eram inevitáveis. Aos 15 anos, o tio Cauby me
presenteou (com) um violão e eu, de forma auto didata, aprendi os primeiros
acordes e já cantava um pouco. Entrei para o coral da Universidade Gama Filho e
depois para o coro da Pro-Arte, onde nasceu o Céu da Bôca, um grupo vocal que
foi a minha escola.
Quais
são as suas influências?
Dalmo: Inicialmente,
minhas influências foram Beatles e a Bossa Nova. Com o aprendizado de
harmonia no violão, essas influências se diversificaram com Milton
Nascimento, Beto Guedes, Tom Jobim, Djavan, enfim, o que há de melhor na
música brasileira.
Conte um pouco sobre sua experiência
no MPB4.
Dalmo: Me
orgulho muito de estar há 8 anos no MPB4, um grupo que tem sua história
confundida com a própria história da música brasileira. Com eles eu estou
sempre aprendendo, seja nos ensaios ou nos palcos. Os arranjos vocais do
Magro são maravilhosos, alguns deles históricos, como os arranjos de Roda Viva,
O Cálice, Pesadelo, Última forma, entre muitos outros.
Direito Autoral no Brasil: como
funciona?
Dalmo: O direito autoral no Brasil vive um momento
especial, numa oportunidade única de transformar-se e adaptar-se as novas
tecnologias de comunicação. A Internet veio “pra” ficar, e ainda buscamos
a melhor forma de remunerar os autores, que perderam muito com a pirataria
e os downloads gratuitos. O sistema
do direito autoral no Brasil se apoia em 12 sociedades arrecadadoras, onde
os autores, produtores fonográficos, arranjadores e intérpretes são filiados, e
o Ecad, que é o órgão que arrecada e distribui os direitos autorais em todo
o território nacional. No momento, o Ecad vive um período conturbado
com questionamentos por parte dos autores, que se sentem prejudicados
na distribuição e nos critérios usados na arrecadação de shows, auditorias
das planilhas de televisão, entre outros pontos.Os grupos críticos ao
funcionamento do Ecad, criaram uma CPI na câmara para tentar melhorar e
mudar os critérios ”pra”ticados hoje pelo órgão, que é vinculados a essas
12 sociedades de direitos autorais, mas apenas 6 compõe o colegiado de
decisão do Ecad. Essa estrutura tende a se modificar, bem como o
sistema de arrecadação e o formato de funcionamento da Lei antiga, a
9.610/98, que não está acompanhando as mudanças que a Internet propiciou
desde o final dos anos 90. Há muito que se fazer, mas não podemos, de
forma alguma, apagar tudo que se criou e se desenvolveu no direito autoral
até agora. A maioria dos músicos não tem a menor informação sobre o
funcionamento do direito autoral e como tirar partido dele em sua
carreira. Não sabem, por exemplo, como se encaixam nas categorias de autor,
intérprete ou produtor fonográfico, criando música áudio visual (trilhas) ou
mesmo em cima do palco com seus shows. O músico brasileiro é desinformado por
natureza.
Poderia nos falar algo sobre a nova
lei do Direito Autoral?
Dalmo: O Minc (Ministério da Cultura) anterior, com
o Ministro Juca Ferreira, apresentou uma reforma da Lei do Direito Autoral
e a colocou em aberto para consultas, sugestões e debates, com a intenção de
reformulação em vários itens da antiga lei. Com a troca de ministros,
assumiu no gov. Dilma, a ministra Ana de Holanda, houve críticas a nova
proposta e um novo debate foi aberto. No momento, Ana de Holanda,
apresentou sua proposta de mudança de Lei, contendo muitos itens semelhantes
a proposta anterior. Os pontos em desacordo são basicamente a questão de se ter
ou não um órgão fiscalizador ao trabalho do Ecad, ela não previu isso, e
as questões que envolvem a Internet.
Existem muitos veículos de
comunicação que não pagam os direitos
autorais?
Dalmo: Sim, existem quase 40% das rádios no Brasil
que não pagam direitos autorais, apesar de enviar planilhas do que foi
executado. Algumas estão sendo processadas pelo Ecad por não pagarem nada,
outras fazem acordo e recebem algum beneficio, um desconto de 10% por estarem
em dia com o pagamento. (Sobre) As TVs fechadas: sabemos que alguns canais não
pagam e também estão
sendo acionadas pelo Ecad.
Muitos músicos evangélicos não sabem
o que é Direito Conexo. Poderia explicar o que é e como funciona?
Dalmo: Funciona
assim: o Ecad arrecada o direito autoral geral, em todo território nacional, e
este grande volume de dinheiro (no ano passado arrecadou 511 milhões), chega ao
órgão e é fracionado. Dois terços vão para a caixa de autorais (autores e
editoras) e um terço vão para o direito conexo. O conexo engloba as categorias
de músico acompanhante, incluindo-se arranjadores, produtores fonográficos e
intérpretes. Os percentuais distribuídos são os seguintes:
Da arrecadação
total, o Ecad fica com 17,4% (custos administrativos do órgão) e as Sociedades
ou Associações de direitos autorais (Amar, Abramus, UBC, Socimpro e outras)
fica com 7,6% para seus custos administrativos. O que sobra, 75%, vira 100% e é
distribuido na razão: 66,66% (2/3) vai para o autoral. Os 33,33% (1/3)
restantes vão para o conexo. Os interpretes recebem se estiverem dentro de uma
amostragem de 450 obras mais executadas no trimestre, mas isso vai mudar com
novas tecnologias que permitirão pagar todas as músicas que tocam em radio ou
tv.
Resumindo os
conexos: 41,7% vão para Intérpretes; 41,7% para produtores fonográficos e 16%
restantes vão para músicos acompanhantes.
Você também é produtor de jingle. Como funciona?
Dalmo: O mercado
de jingle é mais forte em São Paulo, onde estão concentradas as grandes
agências de publicidade que opera em grande escala para as empresas no Brasil
todo. Mas, existe o mercado regional e no Rio temos algumas produtoras de
jingles que trabalham como prestadoras de serviço das agencias. É um mercado
muito volátil, não há uma regulagem padronizada, tudo é muito em função do
serviço que se executa.
Meu trabalho é
basicamente criar jingles de toda espécie, sejam comerciais ou políticos, letra
e música, e você tem que passar uma mensagem rápida, que pegue no ouvido do
cliente e traga todo o conteúdo da venda ou marketing do produto. É complicado
ter que apresentar um produto, em música, em 30 segs ou 1 minuto, de maneira eficiente e aquilo represente uma
maior divulgação e traga um retorno ao cliente. Mas, em publicidade, pode-se
tudo, vale qualquer ideia criadora que possa trazer o cliente “pra” perto do
produto. Em política eu acho mais fácil, porque é mais prático passar o slogan,
o número de votação e as propostas dos candidatos, em tempo maior que 1 minuto
em alguns casos. Mesmo em 30 segs. é mais fácil passar para os eleitores o
projeto do candidato.
Em jingle, não
se paga direito autoral, o preço é acordado entre as partes, criadores e
produtores, cantores, arranjadores, baseados em uma tabela que depende do que
se paga para a equipe de produção. Um vocalista pode receber algo entre 250 e
500 reais, ou mais um pouco, e um vocalista solista pode ganhar algo entre 600
e mil reais, dependendo do que se tem “pra” gastar no trabalho. Há todo um
trabalho de pós-produção, edição, mixagens, como acontece com a música convencional.
Uma criação pode variar entre 800 reais até 2 mil reais, dependendo da
produção.
O que você acha dessa grande visibilidade da música
gospel no Brasil?
Dalmo: A música
gospel é o mercado de maior crescimento nos últimos anos. Por isso mesmo, atrai
“pra” si, uma gama de compositores, cantores e produtores que vieram do mercado
convencional. Neste mercado temos outros atrativos, tais como, pouca pirataria
e uma distribuição bem equilibrada no território nacional. Gravadoras como a
Line Rlecords, que inicialmente abraçou a causa e se constituiu na maior
gravadora Gospel, já sofre a concorrência de outras que buscam o mesmo objetivo
onde se misturam fé e comercio. É um mercado que concorre já em condições
iguais ao mercado convencional. Artistas se apresentam em festivais evangélicos
e também em canais de tv que detém chancela de pastores ou não.
Qual sua opinião a respeito do uso das
redes sociais para os músicos divulgarem seu trabalho?
Dalmo: As redes
sociais se constituem num divisor de águas fortíssimo na divulgação musical de
forma geral. Tanto o twitter, o myspace, hotsites, blogs e o poderoso facebook,
são hoje o que há de melhor para quem não tem recurso para promover seu
trabalho e pretende atingir rapidamente um grande número de pessoas. Porém,
como tudo que é bom atrai uma gama enorme de interessados, a Internet se tornou
um foco de atração de coisas boas e muito ruins também. O filtro disso tudo é o
seu dedo, o seu click no mouse, fica
com você a opção de ver ou não ver, ouvir ou não ouvir. Tem muita coisa ruim na
web e a filtragem é difícil, pois ao mesmo tempo você joga pro mundo o fruto do
seu trabalho que está concorrendo em iguais condições com um trabalho medíocre...,
e o pior que muitas vezes o medíocre vence, pois vivemos uma cultura de
inversão de valores, fruto da falta de educação e poder crítico do nosso povo
brasileiro, que prefere escolher aquilo que é totalmente popularesco sem nada “pra”
trazer de novo, aquilo que realmente faz a diferença, foi estudado, embasado
culturalmente falando. Portanto, pode ser uma faca de dois gumes.
O mercado fonográfico sofreu grandes alterações nas
últimas décadas, com o uso da internet. Como você enxerga essas alterações? São
positivas ou negativas? Quem seriam os maiores beneficiários e os mais
prejudicados nesse processo?
Dalmo: Todo artista hoje tem que estar linkado com as tecnologias internéticas,
sob pena de ficar a margem dos acontecimentos, tanto na produção de sua música
quanto na divulgação de seu trabalho. Acredito muito que começamos a ver uma
seleção natural de estilos, cada segmento terá seu espaço dentro do grande
mercado mundial, globalizado, que temos hoje. O maior problema a ser resolvido
é a questão dos direitos autorais na rede, se não houver mecanismos para proteção
das obras que caem na rede, o autor estará fadado a falência e desistência
deste mercado, pois ninguém vai criar “pra” não receber nada em troca, é lei da
oferta e da procura. Cabe aos pensadores do direito autoral, a nova lei, uma
premiação a estes aspectos do direito autoral na rede. A tecnologia pode
caminhar lado a lado com o mercado artístico no sentido de separar e proteger este
mercado. Eu diria que os beneficiários e/ou prejudicados, são os mesmos atores
que desempenham os papéis neste mercado. Produtores de música não terão espaço
num mercado que se resume a shows e deixa todo o outro lado (execução pública e
vendagem de música) desguarnecido. Exemplos como iTunes e os sites que vendem música pela internet, alguns dentro de
gravadoras tradicionais, já começam a dar bons sinais de sua graça, com números
cada vez mais expressivos, vide o mercado de música em celulares, como os ringtones pagos pelas operadoras de telefones
móveis e jogos eletrônicos.
Com a internet, muitas pessoas têm a
chance de ficar famosas, exibindo seu "talento" pela rede. Você acha
isso positivo?
Dalmo: Este é
outro tema bastante discutível, pois a Internet pode facilmente transformar um
"embuste artístico" numa "Ferrari, ou vice-versa, há que se ter
muito cuidado. O exemplo mais próximo que podemos analisar é o vídeo da família
cantando a música "Pela nossa alegria", que deve ser olhado sob o
prisma da (...) brincadeira (...), e não para transformá-los em pop star da noite
pro dia. Mas, é exatamente isso que a Internet pode produzir, gato por lebre.
Mas, é claro que o contrário também pode acontecer, ou seja, um grande e novo
artista ter seu trabalho apresentado nas redes e se tornar um ícone, sem dúvida.
Eu diria que o saldo é mais positivo que negativo, porque antes este poder
estava nas mãos das grandes gravadoras, que faziam o que queriam em termos de
produções musicais. Hoje este poder está diluído nas mãos de quem quiser
apostar, é mais democrático, esta socializada a cultura de massa.
Dalmo: Eu sou otimista sempre e grande entusiasta
quando falamos de música brasileira de qualidade. Temos a melhor música do
mundo, a mais diversificada, a mais rica em ritmos e levadas, aquela que mais
coloca ingredientes novos no liquidificador musical. Aconselho aos músicos que
não sejam apenas músicos, pois hoje o mercado é seletivo e muito competitivo. O
músico tem que tocar, criar, se auto produzir, ser seu próprio produtor,
gerenciador de negócios, administrador e técnico. A informática veio para ficar
e trazer conhecimentos que facilitaram em muito a vida de quem produz.
Obrigado pela
oportunidade que o meu ex-aluno e amigo Leandro me proporcionou: falar daquilo
que mais gosto.
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